16 novembro, 2006

Série Povos sem Pátria que preservam seus costumes ancestrais 39 - Saami/Lapônia

Mapa da Lapônia, terra dos Saamis


Os Saami ou Lapões são descendentes dos grupos étnicos que ocupam a região compreendida entre as regiões do extremo norte da Noruega, Suécia, Finlândia e parte da Rússia. As mais antigas evidências de ocupação humana deste território datam de meados de 4000 anos atrás. Pressionados pela presença dos nórdicos e vikings ao sul, os Saami permaneceram num estágio social essencialmente tribal, sendo incorporados posteriormente aos Estados que eventualmente se formaram na Escandinávia. As terras dos Saami, chamadas de Laplands ou Lapônia, foram divididas e os povos saami perderam sua autonomia para os modernos reinos ao sul.
Os saami economicamente estão plenamente integrados ao mercado local e regional, embora muitos grupos patriarcais ainda possuam um estilo de vida tradicional, aliado a alguns confortos modernos. A base econômica desta região é o extrativismo animal e vegetal, além da criação das renas, importante fonte de carne, leite, couro e trabalho. Os saami eram originalmente nômades, até o início do século XX, e as fronteiras nacionais muitas vezes impediam que acompanhassem seus rebanhos rumo a outros pontos de pastagem.
Durante o século XX, mais precisamente em 1956, os Saami iniciaram negociações com os diversos governos sob os quais estavam submetidos. No mesmo período, foi criado o Conselho Saami Nórdico, visando integrar os povos de cultura Saami sob um mesmo conselho representativo. Seu objetivo é principalmente fazer ouvir a população em relação aos seus direitos sobre as terras e os recursos naturais da mesma, além de servir como catalizador dos movimentos de autonomia para os teritórios originalmente saami.


Em destaque: Saamis



Em destaque: Laponia durante o curto verão





Em destaque: cabana Saami tradicional, feita de ossos, couro e madeira


08 novembro, 2006

Série Regiões Autônomas com características culturais oprimidas por governos estrangeiros 38 - Galiza/Galicia



Em destaque: mapa da Galícia, norte da Espanha.



A Galicia é uma das regiões autônomas da Espanha onde considera-se como válida a existência de uma comunidade ou nação com características culturais próprias. No caso dos galegos, a principal característica que os distingue dos castelhanos é seu idioma, muito próximo foneticamente do português.
Dentro do Estatuto das nacionalidades da Espanha, os galegos não são exatamente considerados como uma nação. São um grupo com autonomia, embora menor que a dos catalães e bascos, estes sim considerados como grupos nacionais.
A Galícia como região encontra-se no noroeste da Espanha, entre o Oceano Atlântico, o norte de Portugal e as Astúrias. As maiores cidades da região são La Coruña e Santiago de Compostela, com população inferior a 300 mil habitantes cada. A grande importância da Galícia historicamente foi ter sido por muitos séculos até a chamada Reconquista ( termo que é uma bobagem, já que tecnicamente os atuais espanhois são bem diferenciados dos antigos visigodos) a sede dos pequenos reinos cristãos locais, e sede do principal santuário cristão, Compostela, onde estariam os restos de Santiago, um dos apóstolos de Cristo segundo a lenda cristã.
Economicamente, a região é uma das mais pobres e atrasadas da Espanha, quando se compara com as demais, mas seu índice de desenvolvimento é bem superior a países como o Brasil. Depende basicamente da agricultura e industrias ligadas à alimentação.
Assim como as demais nacionalidades sob jugo espanhol, os galegos foram regularmente reprimidos pelos castelhanos, em especial sob a ditadura de Franco.
Agora, para finalizar, um pequeno texto em galego.
A consideración de Galicia como nación e unha procura constante dun maior grao de autogoberno que son defendidas por un número significativo de cidadáns. As tendenzas nacionalistas e mesmo non-nacionalistas en Galicia son na súa meirande parte de tipo federalista, isto é, a formación dunha federación co resto dos actuais territorios españois. Tamén existen grupos independentistas.


Em destaque: La Coruña, uma das principais cidades galegas



Em destaque: o litoral recortado da Galícia

01 novembro, 2006

Série Países Oprimidos a Milênios e apegados à sua terra natal e seus costumes 37 - País Basco/Euskal Herria



Acima: a bandeira basca e abaixo, uma das muitas montanhas dos Pireneus, na divisa entre espanhóis, franceses e bascos.



O país Basco é provavelmente o mais famoso entre todos os países oprimidos que ninguém conhece. Na minha preferência, só perde para as Falkland. Etnicamente coesos a milênios, os bascos nunca chegaram a tornar-se uma entidade estatal eficiente e estável, e acabaram divididos já no século XVI entre os reinos da Espanha e França.
Existem muitas controvérsias a respeito da origem dos bascos. Sua língua não têm congênere em todo o mundo, e provavelmente permaneceu inalterada por séculos. Não se encaixam nas migrações modernas, e algumas teorias colocam os bascos como remanescentes dos primeiros colonizadores indo-europeus. Isolados em suas montanhas e pelo golfo quase intransponível para as antigas embarcações, a civilização basca desenvolveu-se com bases econômicas diversificadas, como mineração e pecuária.
Após a conquista romana da Ibéria, as populações culturalmente celtas (o mais antigo povo indo-europeu de então) lentamente foi sendo assimilada ou expulsa de suas terras. Os bascos permaneceram virtualmente livres. Atravessaram a fragmentada Idade Média como parte de pequenos condados e marcas locais. Durante o nascimento das monarquias nacionais na Ibéria, os bascos permaneceram coesos etnica e culturalmente, prestando vassalagem ao reino de Navarra.
Com a unificação da Espanha, lentamente perderam sua autonomia e, no período pós revolução Francesa, os bascos foram integrados à força aos reinos absolutistas. Durante o período da ditadura de Franco, os grupos nacionais que compunham a Espanha, como galegos, catalães e bascos, foram duramente reprimidos, visando a uma nacionalização sob a cultura castelhana. Apenas com a morte de Franco, aos poucos as proibições concernentes à cultura basca foram cedendo.
Durante o período de repressão, em meados dos anos 60, surgiram os grupos separatistas que, por meio de violentas ações contra figuras chave do governo central e da população civil, buscavam chamar a atenção para o problema basco. A luta recrudesceu apenas em 2006, com o cessar fogo definitivo entre as forças do ETA, o principal grupo de oposição, e o governo espanhol.
O que procuram os bascos hoje? Principalmente autonomia política (alguns mesmo a independência total) e valorização da cultura local. A autonomia política atualmente está num meio termo entre a auto-determinação e a presença de unidades de auto-governo, similar a das ilhas Aaland. Já a cultura basca florece novamente com a instituição de um governo autônomo local, da promoção da língua e da cultura basca, através da educação.

Em destaque: Mapa do País Basco, entre Espanha e França



Em destaque: os vales entre montanhas são uma característica topográfica do País Basco



Em destaque: Bilbao, o maior centro urbano basco