27 agosto, 2008

O que é independência?

Recentemente, as regiões antes conhecidas como partes da Geórgia, da Abecázia e da Ossétia do Sul, foram oficialmente reconhecidas pela Federação Russa como países independentes. O que se viu na televisão foram os festejos das populações das duas repúblicas, enquanto os georgianos protestavam contra a decisão unilateral russa, que retalhou 'legalmente' o já dividido país. No campo diplomático mundial, a decisão russa foi condenada, especialmente pelo G8. Até aí, nada demais, afinal vimos a mesma reação, mas com os sinais de apoio e condenação contrários, quando a União Européia e os Estados Unidos declararam o Kosovo independente, enquanto os russos protestavam.
O que quero discutir aqui não é o mérito dessa independência duvidosa, nem as pretensões destas regiões de se tornarem países autônomos. Na minha opinião pessoal, isso só vai aumentar o número de países europeus que disputam as eliminatórias da copa do mundo pela Uefa. E só. Na prática, nenhum dos dois pequenos países recém independentes vai conseguir manter sua situação sem o consentimento russo. Deixaram de se subordinar a Tbilisi e passaram a se subordinar a Moscou. Economicamente, são países pequenos e inviáveis. Por esse motivo, Bermuda ou Aruba ainda não se declararam independentes de seus respectivos governos europeus.
Mas o que faz um país independente? O que pode servir de pretexto para almejar esta independência política? Seriam as fronteiras ditas culturais ou étnicas? Neste caso, países como Brasil, Estados Unidos ou mesmo a China teriam de ser divididos em conformidade com o direito dos seus muitos grupos étnicos. São países multiculturais, que não possuem homogeineidade de suas populações. Mas mesmo assim conseguem manter seu status de nação independente.
Talvez devessemos apelar para a história, para os precedentes históricos destes povos. Mas a história nos mostra que, se existe algo que não muda, são as mudanças de fronteira e lealdade. A Europa, por exemplo, já foi parte dela território Romano, Huno, Mongol, Carolíngio, Napoleônico, entre muitos outros. Sobre este pretexto, os papas tentaram, com relativo sucesso, governar ou controlar a maior parte do continente, algo impensável nos dias atuais.
A existência de autonomia regional não faz de um país uma entidade independente. Ilhas Färoe e Groenlândia são territórios autônomos, tem sua própria legislação, seu próprio governo, sua identidade cultural, mas não são independentes.
Na verdade, o que faz hoje em dia um país independente são duas coisas: a força das armas e a vontade dos outros países independentes. No primeiro caso, temos a Eritréia, que por mutios anos fez parte da Etiópia. Ganhou a guerra contra seu antigo governo e virou um país independente pelas armas. Nenhum governo negou reconhecimento a este país e, para não complicar ainda mais as coisas, enviou tropas de paz para a região, afim de evitar novas guerras. No segundo caso, entram Kosovo, Abecázia e Ossétia do Sul. Um, aceito pela comunidade Européia e pelos Estados Unidos, mas não pela ONU. Os dois últimos, referendados pela Rússia, e repudiados pelos demais. Exércitos fazem países independentes.
Num mundo como este, é quase impossível pensar em termos de independência pelas vias legais ou do direito internacional. Ou alguém acha que a Rússia vai abrir mão da Ossétia do Norte, para que ela possa se unificar com a sua parte sul?

13 agosto, 2008

Série Territórios Culturalmente Distintos Agregados a Países Influentes 51 - Nagalim

Mapa de Nagaland, estado indiano, que juntamente com pequenos trechos de Myanmar, forma o território Nagalim

Nagalim é como se chama a região compreendida entre Índia e Myanmar e que é habitada pela etnia naga, uma das mais numerosas etnias do estado Indiano. A região sempre foi palco de disputas entre os grandes impérios históricos da região, como a China, a Índia e o Camboja, e sofreu ao longo do tempo com diversas migrações e guerras em sua história.
A etnia Naga, que dá seu nome ao território Nagalim, emigrou da Mongólia no século X e estabeleceu-se nas montanhosas regiões do hoje território nordeste indiano. Por sua própria característica cultural, os nagalins são culturalmente mais próximos dos tibetanos, mongóis e chineses do que dos indianos. Estão na zona de transição entre as culturas indiana e chinesa, bem na borda da península que conhecemos como Indochina. É quase natural que os nagas tenham sofrido com os interesses de seus muitos vizinhos, geralmente mais numerosos e mais fortes militarmente.
Interessante é o fato de que, ao contrário dos indianos, que se dividem em uma maioria hinduísta e algumas minorias budistas e muçulmanas, os nagas seguem o cristianismo, um fato bastante inusitado em uma região historicamente adversa a esta religião. O cristianismo existe como minoria em todo o mundo, e maioria no Ocidente, mas nesta região específica é seguido por 95% do três milhões de nagas.
A região nagalim é extremamente montanhosa e sua exploração econômica baseia-se em uma cultura intensiva do arroz nas encostas (terraços) e na mineração de alguns recursos locais, como urânio e cobre, por empresas indianas e consórcios estrangeiros. O governo indiano reconhece os nagalins como um Estado da União Indiana (Nagaland) e não cria empecilhos para o seu reconhecimento como uma cultura distinta e autônoma, mas não tenciona aumentar a autonomia local e nem mesmo renunciar a soberania do território em favor de uma independência naga. Os nagas dividem-se quanto ao tema independência, mas são unânimes em defender mecanismos de preservação de sua cultura e identidade frente à massificação estatal indiana.

No destaque: cerimônia cultural naga, que poderíamos definir como sino-tibetanos de religião cristã em um estado Hindu!


No destaque: a montanhosa paisagem do território nagalim

12 agosto, 2008

Série Repúblicas Presas a Países Imperialistas por Oleodutos que Atravessam seu Território 50 - Tchetchênia

Mapa da região em conflito: Tchetchênia (vermelho), Abecázia, Ossétia do Sul (em verde escuro) e Geórgia (verde claro). Ao leste, o Mar Cáspio, grande produtor de petróleo e a Oeste o Mar Negro, porto de exportação para a Europa.


A Tchetchênia é nosso orgulhoso país oprimido de número 50, e por si só já teria menção honrosa. Mas o que o traz ao nosso estudo hoje é sua posição como um conflito latente, e amplamente relacionado ao atual conflito Russo-georgiano pela posse da Ossétia do Sul e da Abecázia.
Para quem não sabe ou não leu os jornais ultimamente, a Rússia andou invadindo a Geórgia, sob o 'humanitário' pretexto de proteger seus cidadãos que vivem nas duas regiões separatistas locais, Abecázia e Ossétia do Sul. Tudo besteira. O que a Rússia quer é manter o controle dos oleodutos que atravessam a região e ligam o mar Cáspio (região produtora de petróleo) e o Mar Negro (onde ele é embarcado rumo ao mercado europeu. Toda a matança é para manter o controle da máfia governamental russa sobre o petróleo e permitir que notórios assassinos genocidas como Putin, Abramovich e Beresovsky tenham muito lucro com suas empresas petrolíferas. Mas e daí, qual a novidade? No Iraque não vimos a mesma coisa com Bush, Cheyne e a Halliburton? Quem pode, faz.
Mas o que essa enrolação econômica têm a ver com a Tchetchênia? Simples. A Tchetchênia faz divisa com a Ossétia e é o principal ponto de passagem dos oleodutos. O problema começa com a população tchetchena, que não aceita ser controlada por Moscou, por motivos culturais. Enquanto a maior parte da população russa é cristã ortodoxa, na Tchetchênia o credo predominante é o Islã. A coesão cultural dos tchechenos depende desta sua ligação com o islamismo, e sua rejeição ao estado Russo. No mais, seriam considerados em outros países russos que falam um dialeto próprio e são muçulmanos. Mas, por revestir-se da nova polítca americana de Cristãos contra Muçulmanos, desencadeada pelos EUA após o 11/9, a independência tchechena conta com o apoio dos países islâmicos e é vista com desconfiança pelo mundo Ocidaental.
A briga em si reveste-se de caráter cultural, mas o que vale mesmo é o controle econômico. Em dias de petróleo a 150 dólares o barril, não é o controle sobre o minúsculo território tchecheno que atrai os gastos militares russos, mas sim a manutenção do controle sobre o precioso combustível.

No detalhe, a causa da Guerra na Geórgia, Abecázia, Ossétia do Sul e Tchechenia: mapa dos oleodutos do Mar Cáspio ao Mar Negro


No detalhe: Grozny, capital tchechena, após bombardeios russos


No detalhe: população tchechena, culturalmente islâmica e etnicamente eslava.


08 agosto, 2008

Série Novas Nações Quase Livres (se é que isso existe) em Lugares Beneficiados pelo Aquecimento Global 49 - Groenlândia

Aspecto da Groenlândia: colonização européia, mas fortes componentes culturais Innuit



A Groenlândia é o sexto território componente da América do Norte. Para muitos, é um território perdido e desabitado, como a Antártica. Alguns a colocam como parte integrante da Europa, já que é eqüidistante entre a Islândia (Europa) e o Canadá (América). Culturalmente, o povo groenlandês tem raízes dos antigos ancestrais dos Innuit e dos nórdicos vikings, que colonizariam Dinamarca,Suécia, Noruega, Islândia e Ilhas Aaland e Faröe. Além destes países, existem indícios de colonização nórdica na Terra Nova, Canadá, mas de curta duração e sem deixar impressões culturais importantes nas populações nativas.
O nome Groenlândia é hoje motivo de preocupação entre os cientistas devido à imensa calota polar que cobre o imenso território da ilha (2 milhões e 166 mil km²). Segundo alguns estudos, o derretimento acelerado de suas geleiras levaria ao aumento sistemático do nível do mar, derretimento este detectado nos últimos 50 anos de observações.
O que por um lado é uma catástrofe para os demais países pode ser a chave para o florecimento da região. Ao contrário da Islândia, que é aquecida pela Corrente do Golfo e pelo vulcanismo e possui milhares de hectares de terras cultiváveis, a terra Groenlandesa está aprisionada pelo permafrost, a camada de gelo permanente que cobre o solo da ilha. Aumente a temperatura e pronto, novas terras agricultáveis para os locais.
A Groenlândia é politicamente dependente da Dinamarca, embora como sua congênere Faröe, tenha alto grau de autonomia político-administraiva. A Groenlândia tem parlamento próprio (igual ao Canadá), primeiro ministro (igual ao Canadá) e só algumas características jurídicas fazem dela um território dependente, mesmo que de facto seja autônomo.
A população atual da Groenlândia é composta por antigos colonizadores Innuit (que vieram do Canadá) e perfazem a maioria da população e descendentes de dinamarqueses. A posição geopolítica privilegiada da Groenlândia entre Estados Unidos e Canadá e a Europa, além de ser passagem obrigatória para futuras rotas comerciais através do Ártico pela Passagem Noroeste podem fazer deste território 'quase livre' um dos novos países independentes deste século, e o primeiro estado-nação Innuit.

No detalhe, a Groenlândia (área branca), entre a Europa e a América. Observe que mais de 99% do território é escondido pelo gelo


No detalhe, o permafrost, a água que congela no solo e subsolo groenlândes e inutiliza as terras para a agricultura