21 agosto, 2006

Série Antigas Colônias Hispânicas na África Negra oprimidas por outras ex-colônias Hispânicas 31 - Ilha Bioko

A ilha de Bioko é o trigésimo primeiro país oprimido de nossa grandiosa lista que não para de crescer de territórios sob o jugo estrangeiro, em seu caso, o da Guiné Equatorial.

Localizada na região do Golfo da Guiné, aquela imensa curva no litoral africano semeada de rios, ilhas, etnias e países pequenos (uns vinte), a região é considerada com razão o berço da cultura bantu, um dos macro grupos que compõe a variada população africana. Os habitantes de Bioko, uma pequena ilha na costa de Camarões mas pertencente ao enclave de Guiné Equatorial são em sua maioria descendentes da auto proclamada etnia Bubi, um dos grupos mais antigos da região.

Em destaque: mapa da região, com a ilha de Bioko



Alguns historiadores espanhóis estimam a presença da cultura bubi na região entre 3 e 5 mil anos AP, além de serem uma das raras culturas africanas a ocuparem efetivamente uma ilha do seu litoral (excluíndo-se, naturalmente, as ilhas a pouca distância, são raros os povos africanos que ocupavam as ilhas ditas oceânicas, por sua falta de conhecimentos náuticos, e estas acabaram sendo ocupadas por europeus e seus agregados a partir do século XVI).
O movimento pela independência das ilhas é recente, mas é duramente reprimido pelo governo equatorial, que é dominado em sua maioria por membros de outras etnias. A monarquia Bioko continua atuando na clandestinidade, e faz parte do imaginário popular e das tradições resgatadas pela população local. Uma das características mais interessantes da monarquia Bubi é que todos os súditos são parentes do rei ou de algum alto dignitário, por causa das linhas familiares e de clã. Desta forma, a monarquia Bubi é uma grande família patriarcal, com direitos e deveres em relação aos reis derivados das relações familiares.
A situação da Guiné Equatorial é complicada devido ao fato de possuir, entre outras particularidades interessantes, um governo exilado atuante, que conta com apoio restrito dos governos ocidentais, por defender reformas mais amplas visando a ocidentalização do sistema político da Guiné Equatorial, hoje uma ditadura militar (na verdade, apenas antes da colonização dos invasores espanhóis houve outra forma de governo na região que não fosse ditadura militar).
Com a perda de poder do governo central, a população de Bioko aspira agora por maior autonomia ou até mesmo pela independência completa.

Em destaque: paisagens da ilha Bioko



Em destaque: aspecto de uma pequena vila de Bioko



Em destaque: um lago entre as montanhas que formam a maior parte da paisagem de Bioko

09 agosto, 2006

Série Rochas Oprimidas por Governos Alienígenas e ambicionados por Governos Locais 30 - Vélez de la Gomera

Em destaque: vista lateral da pedra (Plaza de Armas) de Vélez de la Gomera, em disputa entre Marrocos e Espanha.



Vélez de la Gomera é apenas uma pequena ilhota com 77 metros de altura. Situa-se junto ao Marrocos, na costa africana, assim como Ceuta, Mellila, as Ilhas Perejil e Chafarinas, todas elas alegres e vibrantes colônias de sua majestade el rey de España. A região foi conquistada pelos espanhóis já em 1509, tomada dos antigos piratas da Bárbaria que a ocupavam como fortaleza inexpugnável, atuando no Mediterrâneo. Sua localização, junto à foz do rio Bades, permitia o controle do comércio entre o interior do Marrocos e as demais regiões mediterrânicas. Com uma superfície inferior a 1 km², a ilha serve de base para uma pequena guarnição do exército espanhol, encarregada de defender a possessão contra os imperialistas marroquinos, que acham que por estar dentro de seu território, usurpado por séculos de colonialismo e protetorados estrangeiros, o território é deles. Como já visto anteriormente no artigo acerca de Perejil, o problema em torno das possessões africanas da Espanha é muito maior. Envolve imigração de habitantes do Magreb para a União Européia, antigos conflitos entre muçulmanos e cristãos pela posse das terras, uma história feita de conflitos sangrentos de lado a lado e uma dose de intransigência dos governos locais, que tratam a população emigrada marroquina como uma sub-espécie humana e evitam qualquer comentário a respeito da devolução das tais plazas de armas ao Marrocos. Vélez de la Gomera já foi uma ilha, mas um sismo nos anos de 1930 assoreou boa parte do litoral, formando uma pequena língua de terra, ligando a ex-ilha ao Marrocos, um recado da natureza aos que acham que o território pertence aos africanos.

Em destaque: Mapa do Mediterrâneo, com destaque para as possessões espanholas no Marrocos



Em destaque: mais uma imagem da pedra (plaza de armas) de Vélez de la Gomera, com destaque para a ocupação feita pelo exército espanhol

08 agosto, 2006

Série a Solução Encontrada por Stalin para o problema Sionista 29 - Yevreyskaya



Ferrovia Transiberiana: no detalhe em vermelho, a região de Yevreyskaya.

Yevreyskaya é o nome russo para uma solução encontrada por Stalin em 1928 para o fenômeno sionista na recém-formada URSS: uma província autônoma, conhecida no Brasil como Oblast Autônomo Judaico, ou república socialista soviética dos Judeus.
A presença judaica na Rússia remonta à Rússia Imperial. Muitas regiões ocidentais eram divididas em assentamentos russos e judaicos, com uma forte presença cultural iídiche. Apesar do virtual aparthied social, por causa do anti-semitismo das culturas cristãs em geral, as comunidades judaicas gozavam de certo grau de autonomia e prosperaram, não tendo a chance de juntar-se à comunidade russa mas mantendo intactas a cultura e a tradição iídiche. Por séculos, iídiches e russos conviveram mais ou menos em paz, até o início dos Pogroms.
Os pogroms tornaram-se comuns no século XIX, e consistiam em maciças deportações de camponeses iídiches, cujas terras eram ambicionadas por membros do campesinato e da nobreza russa. Logo estes pogroms se estenderam para as áreas urbanas, e o intenso movimento de pessoas rumo ao exílio de sua terra natal resultou na morte de milhares de pessoas, num dos grandes genocídios pouco comentados do século XIX. Para uma melhor visualização da presença judaica na Rússia czarista, sugerimos o filme 'O violinista no telhado'.

A política de extermínio disfarçado dos iídiches só arrefeceu com a chegada dos bolcheviques ao poder, cuja militância de origem judaica era de grande importância para a estabilidade do partido. Com a URSS, os iídiches foram reconhecidos como uma cultura autônoma, e portanto, de acordo com o estatuto dos povos não russos, teriam direito a uma entidade política autônoma, uma espécie de república ou província autônoma, que garantisse sua representação como classe no sovietes. Mas como garantir aos espalhados iídiches russos, por séculos de pogroms, um retorno às suas terras? Com a socialização dos meios de produção, não haviam mais terras particulares nas URSS. Também não era interessante desalojar os russos das terras roubadas de seus anigos donos durante os pogroms. A solução: criar uma região autônoma numa área desabitada, e mandar os judeus russos para lá. Surgia o Oblast Autônomo Judaico, em 1928. Mas a primeira questão é: porque na Sibéria, na fronteira com a China e próximo à Coréia? Como todos os projetos colonizadores, este também tinha seu propósito: garantir as posses das ricas terras ao norte do Amur, na fronteira sul da Rússia com a China. Apesar de gelada, e portanto imprestável para a agricultura, a Sibéria é rica em minérios, em especial ouro e urânio, além de madeiras. A construção da ferrovia transiberiana, ligando São Petersburgo a Vladivostok resolveu a questão de como chegar lá. Agora era necessário ocupá-las.
É claro que a iniciativa não funcionou como deveria. Os judeus ainda assentados em regiões como a Criméia e a Ucrânia não engoliram a história da Sião Marxista, e não conseguiam entender a relação entre ateísmo e judaísmo. Para estes, o propósito soviético era o mesmo dos antigos czares: tirá-los de suas terras e levá-los para lugares onde nem YHWH sabia onde ficava. Mas apesar deste revés inicial, graças ao crescente grau de autonomia dada à província, o Oblast Judaico Autônomo tornou-se o local mais democrático da URSS para se viver. Durante a Segunda Guerra Mundial, judeus emigrados das regiões ocupadas por Hitler ganharam a opção de se instalar na nova Terra Prometida, e foram viver na Sibéria. Também colaborou com a ocupação regional o plano de Stalin, em 1953, de deportar para esta região todos os judeus da URSS, como parte de seus planos de expurgos, mas que não foi completado pela sua morte neste mesmo ano.
Com o fim da URSS, a região esvaziou-se: os judeus emigraram para Israel ou para a Alemanha Federal reunificada. Hoje, menos de 1 por cento da população local define-se como iídiche.

Em destaque: a região do Oblast Judaico Autônomo



Em destaque: um bonito lugar para se passar as férias; ainda bem que é perto da praia



Em destaque: a base econômica da região só pode ser o extrativismo, por motivos óbvios