15 julho, 2007

Série Repúblicas Autônomas Independentes de Fato mas Não Reconhecidas por suas pares 45 - Abecázia/Abkhazia


Abecázia é um dos raros casos de sucesso que não levam a lugar nenhum quando o assunto é luta armada pela independência nacional por motivações étnicas e culturais. O pequeno estado auto-proclamado independente desde a década de 90, localiza-se na costa oriental do mar Negro, junto à fronteira entre Rússia e Geórgia.
Na década de 90, seguindo o rastro da desintegração da URSS, a República Autônoma da Abecázia, parte integrante da RSS da Geórgia declarou unilateralmente sua independência. Até aí nada demais. Neste período, países hoje independentes como Ucrânia, Lituânia e mesmo a Geórgia declararam-se independentes e fora da esfera política moscovita. O que se seguiu foi ainda mais complicado. A Abecázia não era considerada uma das repúblicas formadoras da URSS, mas da Geórgia, esta sim uma das repúblicas da extinta federação. Complicado? Pois é. Junte-se a isso décadas de nacionalismo étnico sufocado pela pressão econômica e demográfica dos georgios, que vêm na pequena república um das mais importantes regiões da economia local e uma intensa campanha de limpeza étnica e russificação da região desde o governo de Stálin e pronto: uma guerra civil pronta pra acontecer.
Estranhamente os abecázios, pouco mais de 100 mil hoje, venceram a guerra contra a Geórgia. Graças a um apoio logístico russo, que manteve tropas estacionadas na região e evitou a ocupação da Geórgia de seu próprio território, pelo menos do ponto de vista da lei Internacional. A motivação: controle do litoral do mar Negro, por onde passam boa parte das exportações russas de petróleo para o Ocidente. Deu pra entender?
O fato maior é que a Rússia utilizou uma motivação legítima, a luta dos Abecázios por autonomia, para promover seus interesses econômicos na região. A guerra entre Abecázia e Geórgia gerou mais de 250 mil refugiados, em sua maioria georgios étnicos; quase 50% da população abandonou suas casas e fugiu para a Rússia e para a Geórgia. Ainda hoje, a Abecázia é um território sob tensão, e a frágil situação local é mantida por um exército de pacificadores da ... Rússia... Isso não é fantástico?


A Abecázia é hoje uma área sob intervenção estrangeira: tropas russas no país



Litoral da Abecázia, vista da Capital, Sukhumi



A influência russa e turco-otomana (norte e sul, respectivamente) na cultura local reflete-se, por exemplo, na arquitetura

08 julho, 2007

Série Países Controlados por Impérios Decadentes e que aspiram a Liberdade 44 - Bermuda



Nas imagens, mapas da ilha e do arquipélago de Bermuda, com sua localização em relação aos Estados Unidos.
Se um professor de geografia entrasse hoje em sua classe da Univille e perguntasse aos seus estudantes quantos países compõe o sub-continente norte americano, ninguém entenderia a pergunta. Se a reformulasse nos termos: quantos países existem na América do Norte, receberia respostas diversas. Um aluno poderia responder - Dois países, considerando América do Norte apenas Estados Unidos e Canadá, de cultura anglo saxônica e excluindo geograficamente o México a uma obscura e estranha América Latina. Outro diria - Três, professor, pois América Latina é uma divisão cultural e étnica, e América do Norte é apenas um conceito geográfico, portanto geograficamente o México é América do Norte. Um terceiro aluno replicaria: Quatro, pois a colônia francesa de Saint Pierre e Miquelon (este descobriu essa pérola aqui neste blog), mesmo sendo um território ultramarino, é uma entidade autônoma dentro dos limites geopolíticos da América do Norte. Outro afirmaria que, além destes quatro, existe a Groenlândia, colônia dinamarquesa na América. E finalmente um outro examinaria atentamente a geografia local e decretaria: são seis territórios, além dos citados existe Bermuda, território ultramar do Reino Unido.
A ilha de Bermuda, que dá nome ao pequeno arquipélago do mesmo nome, é uma antiga possessão britânica no atlântico Norte, junto à costa americana, a cerca de 1350 km da Nova Escócia. Desde o início da exploração colonial espanhola no século XV, Bermuda figura com diversos nomes nas cartas náuticas, mas a primeira tentativa séria de ocupação viria no século XVII com os britânicos, pouco depois das fracassadas tentativas de fixação de colonos no litoral da Virginia. A ilha era desabitada devido à sua grande distância da costa e a falta de tradição de navegação oceânica (falta de necessidade, na verdade) dos povos costeiros norte-americanos. A verdade é que o Atlântico Norte não é exatamente um mar de brigadeiro, com numerosos tufões atingindo a região todos os anos, a caminho do continente.
Bermuda foi o único território Britânico no litoral do Atlântico Norte a permanecer em mãos inglesas após a guerra de independência Norte Americana, com exceção do Canadá, independente posteriormente. Sua importância atual é estratégica e financeira. Durante a guerra fria, americanos, canadenses e britânicos mantiveram tropas estacionadas na ilha, retiradas no final dos anos 90. Desde a década de 70 movimentos de independência influenciam a política da ilha, dividida regularmente entre prós e contras a autonomia política de Bermuda.
A grande questão é se o país é viável autonomamente, como nação soberana, ou se necessita da estrutura de governo implantada no país pelos britânicos. Economicamente, Bermuda depende amplamente do turismo e dos investimentos externos nas empresas offshore, que pagam impostos irrisórios ao governo local e se instalam no país para fugir à pesada tributação de seus países de origem, como nas Ilhas Cayman. O futuro de Bermuda permanece ligado a sua capacidade ou não de gerir de forma solvente um governo nacional independente, sem a necessidade da presença inglesa no local.
No destaque: Vista de Hamilton, capital de Bermuda.



Porto de Hamilton





Na imagem, o clima subtropical favorece a atividade turistica