13 dezembro, 2006

Série Países Agregados a Grandes Imperialistas com Reduzida Autonomia Nacional 41 - Buryatia



Foto de satélite do Lago Baikal, junto à fronteira Rússia-Mongólia



Vista do Lago Baikal



Buryatia é o nome dado a uma extensa região localizada entre o lago Baikal, na Rússia e a fronteira com a Mongólia. Habitada desde os primeiros séculos da atual era por povos nômades de origem mongólica, localiza-se no centro da Sibéria, cuja aspereza do clima e a necessidade da transumância permanente fizeram da região um centro irradiador da cultura nômade que se espalhou durante os séculos vindouros por toda a região que se estende entre as estepes siberianas e os Urais.
A república de Buryatia é uma entidade autônoma dentro da Federação Russa, e reconhecida como tal pelos demais países da região, com autnomia interna mas externamente dependente da Rússia. Sua população é majoritariamente russa, embora a população autóctone, ou buryat, exceda os 20% do total dos 900 mil habitantesdo lugar. A maior parte da população vive das atividades ligadas ao setor primário: exploração mineral, agricultura de subsitência e pastoreio extensivo. Por causa do rigor climático, Buryatia depende excencialmente da importação de alimentos, pagas com as divisas fornecidas pelos serviços de mineração e exportação destes produtos.
A capital e única grande cidade é Ulan Ude, às margens do Baikal, que é considerado a artéria vital da economia. Por ser uma região árida e fria, o Baikal fornece quase toda a água consumida pela população, daí a conformação d o território Buryat ao redor do mesmo.
Culturalmente, Buryatia é o centro da religião budista tibetana na Rússia, além de uma menor importância do xamanismo mongol e do cristianismo ortodoxo. A colônia budista de Ivolginsky é considerada uma das mais dinâmicas e florescentes do mundo fora da área do Tibet, e seus lamas (sacerdotes) são respeitados pela tradição de grandes eruditos entre a população local.
Historicamente, Buryatia já abrigou parte dos impérios Huno, no século III e IV e mongol nos séculos XIII em diante. Após a queda do Kanhato da Horda Dourada, no século XVI e que tinha suserania sobre as vastas regiões diberianas até os Urais e Moscou, a região foi conquistada no século XVII pelos cossacos da nascente dinastia moscovita que, ainda hoje, domina toda a região norte do continente asiático. Junto com os cossacos implantou-se o cristianismo ortodoxo e a limpeza étnica dos grupos autóctones locais, com perseguições contra a cultura budista e xamanista. Conseguiram certo grau de autonomia com a revolução que implantou a URSS, no início do século XX, mas sob Stalin a região sofreu com o processo de coletivização das terras, com a propagação da ideologia totalitária comunista e com a perseguição aos líderes religiosos tradicionais da comunidade Buryat. A migração em massa de russos para a região em busca das riquezas minerais siberianas fragmentou ainda mais a comunidade Buryat, que somente após 1995 obteve do governo russo certo grau de autonomia e valorização da cultura Buryat, com a difusão da língua e cultura tradicionais na vida da pequena república siberiana.


Templo Budista em Ivolginsky, Buryat:



Aspecto de Ulan Ude, capital de Buryatia: restos do socialismo



Interior de um templo budista em Ivolginsky



Visita do Dalai Lama a Buryatia, importante comunidade lamaísta



A montanhosa Paisagem Buryat

01 dezembro, 2006

Série Países Invadidos por potências imperialistas socialistas de mercado 40 - Uyghuristan/ Turquestão Oriental


Os uyghurs são um dos mais de 40 grupos de povos submetidos ao domínio da etnia Han, na China. Assim como os demais povos, como tibetanos e mongóis, os uyghurs foram sistematicamente conquistados e perderam sua autonomia e instituições, remanescendo como sobreviventes de uma das mais pobres províncias chinesas, na Ásia Central.
O Uyghuristan é uma região que liga todos os países do chamado Turquestão: Uzbeques, Cazaques, Turcomanos, Tadjiques, Afegãos, Paquistaneses e Quirguizes a região central chinesa. É considerado o berço da cultura turcomana, que daria origem a inúmeros estados e grupos étnicos que se espalharam entre a Criméia, Anatólia e todo o centro do continente asiático. No século X, a maior parte destes grupos adotou o islamismo como religião. O turquestão Oriental é a fronteira entre os povos de origem turcomana, muçulmanos, e os de origem Han, em sua maioria budistas.
Após séculos de lutas que mantiveram relativamente intacta sua independência, os uyghurs foram finalmente enquadrados dentro do domínio chinês em 1945. Com a proclamação da República popular, iniciou-se o genocídio sistemático dos Uyghurs. Entre 1945 e 2000, 50% da população uyghur foi morta ou exilada. A maior parte da população uyghur vive nos países vizinhos. A religião islâmica foi proibida, embora tivessem mantido a língua e os costumes. Com a revolução Cultural, qualquer manifestação de apreço aos costumes antigos e às velhas tradições foi banida da China. No Turquestão Oriental, isso significou a destruição de mesquitas, exemplares antiquíssimos do Corão, tapeçarias e o assassinato indiscriminado das pessoas que tentaram salvaguardar estes tesouros culturais.
Hoje o Turquestão oriental é representado na UNPO por uma assembléia majoritariamente composta de exilados políticos e culturais. Como tudo o que faz, a China têm imunidade para continuar mandando e desmandando nas áreas ocupadas, covardemente negligenciadas pela opinião pública mundial, mais interessada no milagre econômico chinês conseguido com mão de obra semi-escrava e um sistema de exclusão para 600 milhões de pessoas mantidas à força no campo do que pelas sistemáticas e inúmeras violações de direitos humanos dos grupos monoritários.

Em destaque: ruínas arqueológicas no Turquestão Oriental mostram a importância do comércio e dos aglomerados urbanos nesta civilização





Em destaque: mesquita no Turquestão oriental




Em destaque: estudantes islâmicos

16 novembro, 2006

Série Povos sem Pátria que preservam seus costumes ancestrais 39 - Saami/Lapônia

Mapa da Lapônia, terra dos Saamis


Os Saami ou Lapões são descendentes dos grupos étnicos que ocupam a região compreendida entre as regiões do extremo norte da Noruega, Suécia, Finlândia e parte da Rússia. As mais antigas evidências de ocupação humana deste território datam de meados de 4000 anos atrás. Pressionados pela presença dos nórdicos e vikings ao sul, os Saami permaneceram num estágio social essencialmente tribal, sendo incorporados posteriormente aos Estados que eventualmente se formaram na Escandinávia. As terras dos Saami, chamadas de Laplands ou Lapônia, foram divididas e os povos saami perderam sua autonomia para os modernos reinos ao sul.
Os saami economicamente estão plenamente integrados ao mercado local e regional, embora muitos grupos patriarcais ainda possuam um estilo de vida tradicional, aliado a alguns confortos modernos. A base econômica desta região é o extrativismo animal e vegetal, além da criação das renas, importante fonte de carne, leite, couro e trabalho. Os saami eram originalmente nômades, até o início do século XX, e as fronteiras nacionais muitas vezes impediam que acompanhassem seus rebanhos rumo a outros pontos de pastagem.
Durante o século XX, mais precisamente em 1956, os Saami iniciaram negociações com os diversos governos sob os quais estavam submetidos. No mesmo período, foi criado o Conselho Saami Nórdico, visando integrar os povos de cultura Saami sob um mesmo conselho representativo. Seu objetivo é principalmente fazer ouvir a população em relação aos seus direitos sobre as terras e os recursos naturais da mesma, além de servir como catalizador dos movimentos de autonomia para os teritórios originalmente saami.


Em destaque: Saamis



Em destaque: Laponia durante o curto verão





Em destaque: cabana Saami tradicional, feita de ossos, couro e madeira


08 novembro, 2006

Série Regiões Autônomas com características culturais oprimidas por governos estrangeiros 38 - Galiza/Galicia



Em destaque: mapa da Galícia, norte da Espanha.



A Galicia é uma das regiões autônomas da Espanha onde considera-se como válida a existência de uma comunidade ou nação com características culturais próprias. No caso dos galegos, a principal característica que os distingue dos castelhanos é seu idioma, muito próximo foneticamente do português.
Dentro do Estatuto das nacionalidades da Espanha, os galegos não são exatamente considerados como uma nação. São um grupo com autonomia, embora menor que a dos catalães e bascos, estes sim considerados como grupos nacionais.
A Galícia como região encontra-se no noroeste da Espanha, entre o Oceano Atlântico, o norte de Portugal e as Astúrias. As maiores cidades da região são La Coruña e Santiago de Compostela, com população inferior a 300 mil habitantes cada. A grande importância da Galícia historicamente foi ter sido por muitos séculos até a chamada Reconquista ( termo que é uma bobagem, já que tecnicamente os atuais espanhois são bem diferenciados dos antigos visigodos) a sede dos pequenos reinos cristãos locais, e sede do principal santuário cristão, Compostela, onde estariam os restos de Santiago, um dos apóstolos de Cristo segundo a lenda cristã.
Economicamente, a região é uma das mais pobres e atrasadas da Espanha, quando se compara com as demais, mas seu índice de desenvolvimento é bem superior a países como o Brasil. Depende basicamente da agricultura e industrias ligadas à alimentação.
Assim como as demais nacionalidades sob jugo espanhol, os galegos foram regularmente reprimidos pelos castelhanos, em especial sob a ditadura de Franco.
Agora, para finalizar, um pequeno texto em galego.
A consideración de Galicia como nación e unha procura constante dun maior grao de autogoberno que son defendidas por un número significativo de cidadáns. As tendenzas nacionalistas e mesmo non-nacionalistas en Galicia son na súa meirande parte de tipo federalista, isto é, a formación dunha federación co resto dos actuais territorios españois. Tamén existen grupos independentistas.


Em destaque: La Coruña, uma das principais cidades galegas



Em destaque: o litoral recortado da Galícia

01 novembro, 2006

Série Países Oprimidos a Milênios e apegados à sua terra natal e seus costumes 37 - País Basco/Euskal Herria



Acima: a bandeira basca e abaixo, uma das muitas montanhas dos Pireneus, na divisa entre espanhóis, franceses e bascos.



O país Basco é provavelmente o mais famoso entre todos os países oprimidos que ninguém conhece. Na minha preferência, só perde para as Falkland. Etnicamente coesos a milênios, os bascos nunca chegaram a tornar-se uma entidade estatal eficiente e estável, e acabaram divididos já no século XVI entre os reinos da Espanha e França.
Existem muitas controvérsias a respeito da origem dos bascos. Sua língua não têm congênere em todo o mundo, e provavelmente permaneceu inalterada por séculos. Não se encaixam nas migrações modernas, e algumas teorias colocam os bascos como remanescentes dos primeiros colonizadores indo-europeus. Isolados em suas montanhas e pelo golfo quase intransponível para as antigas embarcações, a civilização basca desenvolveu-se com bases econômicas diversificadas, como mineração e pecuária.
Após a conquista romana da Ibéria, as populações culturalmente celtas (o mais antigo povo indo-europeu de então) lentamente foi sendo assimilada ou expulsa de suas terras. Os bascos permaneceram virtualmente livres. Atravessaram a fragmentada Idade Média como parte de pequenos condados e marcas locais. Durante o nascimento das monarquias nacionais na Ibéria, os bascos permaneceram coesos etnica e culturalmente, prestando vassalagem ao reino de Navarra.
Com a unificação da Espanha, lentamente perderam sua autonomia e, no período pós revolução Francesa, os bascos foram integrados à força aos reinos absolutistas. Durante o período da ditadura de Franco, os grupos nacionais que compunham a Espanha, como galegos, catalães e bascos, foram duramente reprimidos, visando a uma nacionalização sob a cultura castelhana. Apenas com a morte de Franco, aos poucos as proibições concernentes à cultura basca foram cedendo.
Durante o período de repressão, em meados dos anos 60, surgiram os grupos separatistas que, por meio de violentas ações contra figuras chave do governo central e da população civil, buscavam chamar a atenção para o problema basco. A luta recrudesceu apenas em 2006, com o cessar fogo definitivo entre as forças do ETA, o principal grupo de oposição, e o governo espanhol.
O que procuram os bascos hoje? Principalmente autonomia política (alguns mesmo a independência total) e valorização da cultura local. A autonomia política atualmente está num meio termo entre a auto-determinação e a presença de unidades de auto-governo, similar a das ilhas Aaland. Já a cultura basca florece novamente com a instituição de um governo autônomo local, da promoção da língua e da cultura basca, através da educação.

Em destaque: Mapa do País Basco, entre Espanha e França



Em destaque: os vales entre montanhas são uma característica topográfica do País Basco



Em destaque: Bilbao, o maior centro urbano basco

17 outubro, 2006

Série Colônias Esquecidas em regiões inóspitas e habitadas por Nazistas sobreviventes 36 - Neuschwabenland



Neuschwabenland (Nova Suábia) é o nome dado a uma extensa região do litoral atlântico da Antártica, e que durante o período de 1937 a 1945 foi reconhecidamente uma colônia alemã.
Conhecida desde as primeiras expedições antárticas do século XIX, o recortado litoral da Antártica era objeto de disputa entre diversas nações européias, entre os quais o Reich do Kaiser Guilherme. Em seu governo, diversas expedições aportaram na região, e em 1873 fizeram um reconhecimento minucioso da costa, objetivando a efetiva ocupação das despovoadas terras do sul.
Em 1937, durante o governo Hitler, os alemães resolveram ocupar e reinvindicar a região para o Terceiro Reich. Mobilizando o que havia de melhor em tecnologia e recursos, os alemães mapearam e fizeram o levantamento topográfico de uma área de 600 mil quilometros quadrados, maior que a própria Alemanha, produzindo cerca de 11 mil fotografias e dispersando milhares de bandeiras do Reich na região, o que era a forma mais comum de se ocupar uma área e aceita internacionalmente.
Até a eclosão da guerra, em 1939, os alemães descobriram diversas áreas onde o continente antártico é livre da camada permanente de gelo, causadas por fontes termais e vulcanismo. Uma imensa falha geológica corta o continente, seguindo pelo Oceano Pacífico. Durante a guerra, os submarinos alemães foram utilizados intensamente nas águas da Antártica, chegando mesmo a tentar ocupar o Estreito de Magalhães e as Falklands, mas sem sucesso.
Após a guerra, existem relatos de uma expedição americana ao continente, em 1947, pretensamente para destruir as bases militares nazistas presentes na Antártica. A partir daí, tudo o que se relaciona com a região de Neuschwabenland é envolto por especulações ufológicas e outras correntes mistificadoras, que envolvem em uma aura de mistério a existência ou não em algum momento da história de ocupação humana permanente na Antártica antes da Segunda Guerra Mundial, o que por si só seria um fato notável.

Em destaque: avião sendo lançado do navio Suábia



Em destaque: o Schwabenland, ou Suábia



Em destaque: súditos do Terceiro Reich na Antártida ocupada


11 outubro, 2006

Série Arquipélagos Condenados a Submissão a Múltiplas Metrópoles Imperialistas 35 - Ilhas Spratly




Localizadas estrategicamente na região do mar do Sul da China, as ilhas Spratly são objeto de disputas entre diversas potências locais: China, Malásia, Filipinas, Taiwan (que a China também quer), Brunei e Vietnam.
São cerca de uma centena de ilhas, recifes, rochedos e atóis desabitados, exceto pelas bases de pesquisa meteorológica das nações em litígio, assoladas pelos tufões que vez ou outra aparecem por ali.
Pergunta: o que um país como a China, ou mesmo Brunei, iriam querer em uma região tão inóspita?
Resposta: o acesso exclusivo aos campos de prospecção de hidrocarbonetos (petróleo) e à pesca comercial.
Enquanto isso, as oprimidas formas de vida marinha seguem suas vidas oprimidas, enquanto a luta por sua soberania política se desenrola em algum lugar do leste asiático.

Em destaque:ocupação chinesa das Spratly



Em destaque: vista aérea de uma das ilhas

02 outubro, 2006

Série Países Extremamente Oprimidos e prestes a desaparecer na Oceania 34 - Tokelau



Toquelau é um dos dezenas de pequenos países que provavelmente irão desaparecer no decorrer dos séculos XXI e XXII, graças ao aquecimento global. Com a eminente subida das águas do Pacífico, os toquelauenses terão que emigrar, abandonando assim uma terra que a séculos tem sido ocupada por polinésios vindos dos arredores em migrações que remontam ao século X.
O arquipélago em si é formado por três pequenos atóis distantes entre si centenas de quilômetros, e que foram reunidos formalmente em um protetorado no século XIX sob o nome de ilhas da União pelo império Britânico. Com a independência da Nova Zelândia, a Grâ bretanha passou diversas possessões para esta última. Desde a década de 30 os habitantes de Tokelau são também cidadãos da Nova Zelândia, numa livre-associação que já dura 80 anos. Em 2005, instados em um plebiscito a serem independentes, os tokelauenses decidiram permanecer ligados ao estado neo zelandês, pois caso contrário perderiam os gordos subsídios pagos por este para manter os serviços essenciais nas ilhas em perfeito funcionamento.
Economicamente Tokelau depende do extrativismo marítimo, da pesca, do cultivo do coco, da venda de selos e do turismo. Apesar disso, todos os anos os tokelauenses deixam a ilha rumo à metrópole, em busca de empregos e dólares para enviar de volta a seus parentes. Praticamente tudo na ilha é importado, e sem um produto econômico forte Tokelau tende a desaparecer antes mesmo de sua independência, marcada para 2010, ou mesmo da inundação que cobrirá os restos da aventura polinésia de ocupação da imensa área compreendida entre os trópicos de Capricórnio e o de Câncer, no Oceano Pacífico.

No destaque: o atol de Nukunonu



No destaque: vista aérea do atol de Atafu, destacando as barreiras de coral ao redor da ilha principal




No destaque: Uma vista de Tokelau



No destaque: a base econômica continua sendo a pesca em pirogas.

12 setembro, 2006

Eu tenho medo das religiões monoteístas proselitistas



Recentemente, o presidente G.W. Bush dos USA resolveu que era hora de dar o seu real motivo de estar atacando outros países ao redor do globo: estamos fazendo o trabalho de deus. Isto foi dito numa conferência da Igreja Batista do Sul, junta a outros dezenas de milhares de eleitores em potencial para o partido Republicano. Parece um caso isolado, associar fé e política, eleições com crenças, lei e religião. Mas o fato é que em todo o mundo cada vez mais a razão, sobre a qual foram fundadas as instituições que deveriam governar nossas vidas estão sendo lentamente solapadas por pequenos grupos radicais religiosos, que fazem do Estado laico um balcão de visibilidade para divulgação de seus preceitos.
Presume-se que uma pessoa imbuída do espírito religioso é aberta, tolerante, fiel aos mandamentos que norteiam sua vida religiosa. Mas não deve-se estender o substantivo tolerância aos monoteístas proselitistas. Monoteísta não é aquele que acredita em apenas um deus e serve apenas a ele, mas aquele que não aceita de maneira alguma a existência de outros. Seu deus escreve-se com letra máiúscula, enquanto os outros são aceitos como criações humanas, e portanto indignos da letra grande no início de seus nomes. Já proselitista é aquele que sai de porta em porta a pregar, utilizando para isto meios tão variados como rádio, tvs, revistas, leis, feriados, códigos de postura, entre outros. O fato de alguém pregar sua religião como sendo a verdadeira automaticamente desqualifica a do outro.
Não existe problema algum em se definir como cristão de tal grupo ou tal grupo, mas sim no fato de não aceitar que o outro seja tão bom qaunto o meu. Intolerância é muito mais do que entrar em conflito: este é apenas um efeito da depreciação diária feita pelos pregadores em relação a outras formas de se expressar religiosamente. Intolerância começa na vida em comum, nos pequenos gestos, na falta de um critério que defina os pontos comuns entre as religiões em vez de apenas mostrarem as diferenças.
Os grupos humanos são culturalmente narcisistas, e valorizam seu grupo de identificação como sendo o único que traz a verdadeira felicidade. Todos os grupos humanos são conscientes de sua superioridade frente aos demais. Sempre irão mensurar seus similares por aí em função de melhor ou pior que o meu ponto de vista. Uma vez que só temos uma maneira de conviver com o o mundo, esta será nossa régua. Mas determinados grupos simplesmente não podem aceitar que outras formas de visão existam.
Um exemplo de grupo narcisista tolerante eram os antigos romanos. Em matéria de religiosidade, os romanos adotaram os deuses de praticamente todas as nações sob seu domínio, deformaram suas formas originais, adaptando-as com sua régua de medir o mundo. Ao perceber semelhanças entre seu Júpiter Olímpico com o Baal fenício ou com o Zalmoxis das tribos partas, eles estabeleceram uma relação aceitável de tolerância. Não há problema algum em se adorar Baal, já que ele é uma versão local do seu deus supremo. Mesmo sendo uma visão preconceituosa (todas as visões são preconceituosas, só temos um óculos para ver o mundo), permitia que fenícios e partos permanecessem com sua crença, mesmo travestida por elementos romanos.
Agora peguemos o exemplo das primeiras religiões monoteístas éticas, como o judaísmo dos Juízes. São extremamente intolerantes: nehum outro povo tem a verdade, apenas Israel. Quando entram em contato com outras populações, estas não são assimiladas, mas expulsas e destruídas. Não pode haver espaço para ambos em sua terra: se você não adora ao verdadeiro deus, então deve partir. Mas param por aí. Uma vez estabelecidos, os judeus do tempo dos Juízes dificilmente faziam algum esforço para entrar em contato com outras culturas. De fato, tal contato é sempre evitado. Não existe proselitismo da religião judaica, pelo contrário: poucos são aceitos na assembléia que não estejam discriminados pelas suas leis. E o sistema se mantém com o próprio povo que o criou, sem espalhar-se pelos vizinhos.
Já os monoteístas proselitistas parecem não descansar enquanto todos não tiverem a mesma fé, o mesmo modo de ver o mundo, a mesma maneira de se relacionar com a divindade. A raiz deve ser a mesma, mas devido a problemas de logística, como manter grupos diferenciados culturalmente sob o mesmo domínio, perde-se no caminho o ideal de unidade, e surgem as dissenções. E estas dissenções são a pior causa de guerras e mortes dos últimos 500 anos de nossa história. Sob a égide da Unidade impossível, travamos guerras por diferença de opinião acerca dos mais diversos assuntos: se o vinho é sangue, e se o sangue é vinho; se o cabelo deve ser curto ou comprido; se as pessoas devem adorar imagens ou destruí-las; se ler as escrituras sagradas de sua religião ou mesmo de outras é lícito ou não; se adorar seu deus em sua língua natal é aceitável ou não. E quanto menor for o motivo, maior será a destruição. E tudo isto porque somos incapazes de aceitar que o outro grupo tem tantas semelhanças com o nosso que não podemos travestí-los com nossa ideologia para torná-lo aceito.
Por isso o convívio humano só poderá ser possível em toda nossa diversidade cultural quando estivermos dispostos a aprender sobre a diversidade de opiniões, culturas e religiões que existem no mundo. Conhecer para aceitar. Não se trata de se renunciar às próprias convicções, mas de ter a capacidade de reconhecer na religião alheia as mesmas fórmulas, medos, esperanças, que fazem de nossa vida uma jornada mais suportável. Saber que por trás de nomes diferentes e maneiras diferentes de se vivenciar a cultura, existem os mesmos sentimentos que nos unem como espécie. Aceitar o outro é apenas um passo simples, mas o mais difícil de se dar, e por isso o mais importante.

05 setembro, 2006

Série Antigos Territórios Sobreviventes da Idade Média Européia e pertencentes a feudatários particulares 33 - Ilha de Man

A ilha de Man é nosso trigésimo terceiro país oprimido, localizado junto a Grã Bretanha, mais especificamente no mar da Irlanda (porque da Irlanda?).
A ilha é um dos pequenos feudos remanescentes no mundo (livre?) em que vivemos hoje. Assim como Andorra, a ilha é propriedade de um determinado senhor, a saber, a Coroa Britânica. Não, a ilha não faz parte do Reino Unido, como muitos devem estar pensando. É um território dependente diretamente da Coroa, que por acaso governa o Reino Unido.
Antigo território celta (como quase metade da Europa, caso são saibam), a ilha foi sucessivamente conquistada por normandos e anglos, sendo que a partir do século XIX passou a ter seus negócios geridos diretamente pela Coroa. Embora não faça parte do Reino Unido, faz parte da Commonwealth britânica, assim como Canadá e Austrália. Assim, é ao mesmo tempo reconhecida como uma entidade política autônoma e dependente. Caso os britânicos resolvam se livrar de sua família real (já fizeram isso várias vezes) e tornar-se uma república (já fizeram isso), a Ilha continuaria como território dependente da família real, que provavelmente poderia continuar suas funções de chefe de Estado por ali. Mas os manx não consideram a rainha da Grã Bretanha e Irlanda do Norte como sua chefe de Estado, mas como sua senhora feudal (lorde), já que quem governa a ilha é o parlamento local (como se fosse um país independente, como Austrália e Canadá) e o governador nomeado em Londres (como as Falklands ou Santa Helena, territórios dependentes).
Creio que nem os manx conseguem definir sua situação política, embora culturalmente estejam mais próximos dos irlandeses, já que possuem língua própria (o manx), similar ao antigo Gaélico, falado com variações em Gales e na Escócia. Definitivamente, é um lugar muito estranho par ser definido em razão apenas de sua situação política e cultural, já que apresentam-se mesclados elementos das antigas tradições consuetudinárias aliadas as modernas leis do parlamento.

Vista de um farol, junto à costa de Man


Em destaque: bondes puxados por tração animal, ainda em atividade em Man

Em destaque: o pequeno cavalo manx, base da economia agrícola local

01 setembro, 2006

Série Arquipélagos Localizados em regiões remotas e em disputa por países imperialistas 32 - Ilhas Kurillas


A Segunda Guerra Mundial ainda não acabou, pelo menos para dois países: a União Soviética e o Império Japonês, representados atualmente pela Rússia e pelo Japão. Tudo por causa de um pequeno arquipélago que liga a parte peninsular de Kamchatka à ilha de Sapporo, norte do Japão.
As ilhas, tratadas como Kurillas pelos russos e como territórios do Norte pelos japoneses são uma das áreas abocanhadas pela antiga URSS como despojos de guerra durante a Segunda Guerra Mundial. Como sabem, após a derrota do eixo na parte européia, a URSS concentrou seus esforços para expulsar os japoneses da China, invadindo a Manchúria, da Coréia e do mar de Okhotsk. Enquanto os americanos atacavam por mar, pelo sul, algumas unidades anfíbias do exército vermelho ocupavam a região norte do Japão, em especial o arquipélago em disputa.
Após o fim da guerra, a URSS negou-se a devolver o território aos japoneses, pretextando, como no caso da Bessarábia, direito de guerra. Nada que espante: os americanos ocupam Okinawa até hoje, e mantém milhares de soldados no Japão a pretexto de defender o país do resto do mundo. O território historicamente vem sendo sucessivamente ocupado por alguns senhorios do norte do Japão desde o século XVIII. A parte mais ao norte, junto da área peninsular, sempre teve asentamentos russos, a partir do século XIX. Desta forma, russos e japoneses compartilhavam a soberania sobre as ilhas. Em 1875, as ilhas foram cedidas ao Japão, em troca da soberania plena russa sobre a ilha Sakhalin. Apenas após a segunda Guerra Mundial é que os russos retomaram a sua posse, sem protestos japoneses, exceto pelas quatro ilhas ao sul, denominadas de Chishima. Sem um acordo viável nesta questão, a Segunda Guerra Mundial permanece me aberto, mais de 60 anos depois.

Agora, o que interessa: por que os russos fazem tanta questão de manter as Kurillas?


Pelo controle total do mar de Okhotsk e de seus recursos minerais e pesqueiros: pirita, sulfatos em geral, minérios polimetálicos (tungstênio, magnésio, titânio). Também não se descarta a possibilidade da existência de jazidas petrolíferas na região, junto à plataforma continental, embora toda a área seja de origem vulcânica.

Em destaque: uma vista das Kurillas:




21 agosto, 2006

Série Antigas Colônias Hispânicas na África Negra oprimidas por outras ex-colônias Hispânicas 31 - Ilha Bioko

A ilha de Bioko é o trigésimo primeiro país oprimido de nossa grandiosa lista que não para de crescer de territórios sob o jugo estrangeiro, em seu caso, o da Guiné Equatorial.

Localizada na região do Golfo da Guiné, aquela imensa curva no litoral africano semeada de rios, ilhas, etnias e países pequenos (uns vinte), a região é considerada com razão o berço da cultura bantu, um dos macro grupos que compõe a variada população africana. Os habitantes de Bioko, uma pequena ilha na costa de Camarões mas pertencente ao enclave de Guiné Equatorial são em sua maioria descendentes da auto proclamada etnia Bubi, um dos grupos mais antigos da região.

Em destaque: mapa da região, com a ilha de Bioko



Alguns historiadores espanhóis estimam a presença da cultura bubi na região entre 3 e 5 mil anos AP, além de serem uma das raras culturas africanas a ocuparem efetivamente uma ilha do seu litoral (excluíndo-se, naturalmente, as ilhas a pouca distância, são raros os povos africanos que ocupavam as ilhas ditas oceânicas, por sua falta de conhecimentos náuticos, e estas acabaram sendo ocupadas por europeus e seus agregados a partir do século XVI).
O movimento pela independência das ilhas é recente, mas é duramente reprimido pelo governo equatorial, que é dominado em sua maioria por membros de outras etnias. A monarquia Bioko continua atuando na clandestinidade, e faz parte do imaginário popular e das tradições resgatadas pela população local. Uma das características mais interessantes da monarquia Bubi é que todos os súditos são parentes do rei ou de algum alto dignitário, por causa das linhas familiares e de clã. Desta forma, a monarquia Bubi é uma grande família patriarcal, com direitos e deveres em relação aos reis derivados das relações familiares.
A situação da Guiné Equatorial é complicada devido ao fato de possuir, entre outras particularidades interessantes, um governo exilado atuante, que conta com apoio restrito dos governos ocidentais, por defender reformas mais amplas visando a ocidentalização do sistema político da Guiné Equatorial, hoje uma ditadura militar (na verdade, apenas antes da colonização dos invasores espanhóis houve outra forma de governo na região que não fosse ditadura militar).
Com a perda de poder do governo central, a população de Bioko aspira agora por maior autonomia ou até mesmo pela independência completa.

Em destaque: paisagens da ilha Bioko



Em destaque: aspecto de uma pequena vila de Bioko



Em destaque: um lago entre as montanhas que formam a maior parte da paisagem de Bioko